A rede de transporte de passageiros sobre trilhos no Brasil deve ganhar mais 245 quilômetros de malha nos próximos cinco anos. Desses, 29 quilômetros são para 2017. As projeções contemplam projetos já contratados ou já em execução que incluem VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos), monotrilhos, trens e metrôs. A estimativa é da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) e integra o Balanço do Setor Metroferroviário 2016, divulgado nessa segunda-feira (3). Caso se confirmem, até 2022 o Brasil terá quase 1.280 quilômetros de linhas.
A crise econômica, contudo, tem representado uma dificuldade. Em 2016, era esperada uma expansão recorde da malha, com 50,2 novos quilômetros. Mas a limitação orçamentária do poder público fez o ritmo das obras desacelerar e 21,7 quilômetros ficaram prontos no ano passado – trechos da Linha 2 do metrô de Salvador (BA), do VLT Carioca (RJ) e da Linha 4 do metrô do Rio de Janeiro.
No primeiro bimestre deste ano, houve mais um avanço, com 6,7 quilômetros inaugurados no VLT Carioca (RJ) e no VLT da Baixada Santista (SP).
A expansão é vista com otimismo, apesar de estar aquém do que o Brasil precisa. O estudo Transporte e Desenvolvimento: Transporte Metroferroviário de Passageiros, desenvolvido pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), aponta que são necessários mais 850 quilômetros para modernizar o transporte urbano nas grandes cidades, o que demandaria cerca de R$ 167,13 bilhões. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte, pelo caráter estruturante, confiabilidade e grande capacidade de transporte, os sistemas sobre trilhos permitem a melhoria da acessibilidade, da mobilidade e da qualidade de vida nos centros urbanos.
Porém, a capacidade de investimento do poder público está limitada. Para o presidente do conselho da ANPTrilhos, Joubert Flores, o desafio é oferecer condições para que investidores privados assumam os projetos. “A gente tem uma baixa capacidade momentânea dos estados de continuarem com as expansões e um marco regulatório que não dá garantia para o investidor privado ter confiança de fazer esses investimentos”, analisa. Por isso, defende a importância de se ter “um sistema de regulação firme e profissional e de garantias que reduzam os riscos do investidor”.
Demanda cai pela primeira vez; mas deve voltar a crescer
Além de atrasar a realização de obras de VLTs, trens e metrôs, a crise econômica causou outro efeito: como o desemprego cresceu, a procura por esse tipo de transporte caiu. A redução, na média, foi pequena – 0,2% em comparação com 2015 -, mas chama a atenção porque é a primeira registrada desde 2010, quando a ANPTrilhos começou a levantar esses dados. Foram transportados 2,91 bilhões de passageiros (o número contabiliza viagens individuais realizadas pelos usuários do transporte), totalizando 9,85 milhões de passageiros/dia. Em 2015, foram 2,92 bilhões.
Para se ter uma ideia, nos cinco anos anteriores, conforme o estudo da CNT, a demanda aumentou 37,4%. Por essa razão, Joubert Flores lembra que a expansão das redes de transporte não pode parar. “Nos nossos sistemas, de 70% a 80% das viagens ocorrem em função do trabalho. Quando você diminui o emprego, diminui o interesse de viagem. Mas isso não é para sempre. A gente espera que a economia retome e temos de estar preparados para atender à demanda que virá”, diz. Ele esclarece que, como esse tipo de projeto requer planejamento de longo prazo, tem de permanecer na agenda das políticas de mobilidade do poder público. Isso porque, quando a economia voltar a crescer, a tendência é que isso impacte diretamente os sistemas de transporte.
Mais trilhos, menos carros
Conforme o balanço da ANPTrilhos, os sistemas de transporte sobre trilhos tiram, diariamente, cerca de 1,1 milhão de carros das ruas onde eles estão implantados. O cálculo considera a capacidade de transporte (que chega a 60 mil passageiros por hora por sentido, enquanto os carros transportam 1,8 passageiro na mesma base de comparação). O resultado disso é menos acidentes, menos congestionamentos e menos poluição. A estimativa é que o metrô emita quase 60% menos gases causadores do efeito estufa que os automóveis.
Fonte: Agência CNT de Notícias